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16 junho 2013

Institutas 5

"Na própria ordem das coisas, é considerado o amor paterno de Deus com o gênero humano, que não criou Adão antes que a terra fosse enriquecida em abundância de coisas boas. Pois, se o tivesse colocado na terra estéril e vazia, se desse a vida antes da luz, ver-se-ia qu epouco teria considerado o que era útil para ele. Mas, ao dispor o movimento do sol e dos astros a serviço do homem, encheu a terra, as águas e os ares com animais; produziu em abundância todos os frutos que serviriam de alimento, tomando o cuidado de um pai de família providente e diligente, ostentou diante de nós sua admirável bondade."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XIV, parágrafo 2)

"E assim criou o céu e a terra com a mais plena abundância de todas as coisas, pela variedade e beleza, como se tivesse ornado admiravelmente uma ampla e esplêndida morada, ao mesmo tempo mobiliada e repleta do mais excelente e copioso. Por fim, ao dar forma ao homem, tocando-o com tanto brilho, tornando-o insigne com todos e tantos dons, fez dele o espécime mais notável de suas obras."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XIV, parágrafo 20)

"Um exemplo da primeira parte do que dissemos é considerarmos quão grande foi o artífice que ordenou e preparou essa multidão de estrelas que está no céu, tendo-as disposto em tal série que não se possa imaginar algo com aspecto mais brilhante; a umas inseriu e fixou em tais posições que não se pudessem mover; a outras, concedeu um caminho mais livre, mas que vagando, não ultrapassassem seu espaço; e combinou de tal modo o movimento de tudo que mediu os dias e as noites, os meses, os anos e as estações do ano, e ainda dispôs essa desigualdade dos dias, que discernimos continuamente, numa combinação tal que nada possui de confuso. Assim também, quando observamos a potência ao sustentar tão vasta massa, ao governar tão célere revolução da máquina celeste, e outras coisas semelhantes. Com efeito, esses poucos exemplos declaram de forma suficiente o que significa reconhecer as virtudes de Deus na criação do mundo. Além do mais, se agradasse discorrer sobre toda essa matéria, não haveria limite, como eu disse, pois  são tantos os milagres do poder divino, tantas as insígnias de bondade, tantos os exemplos de sabedoria, quantas são as espécies das coisas que estão no mundo, ou melhor, quantas são as coisas, quer sejam grandes ou pequenas."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XIV, parágrafo 21)

"Por fim, para encerrar, todas as vezes que nomearmos Deus criador do céu e da terra, venha-nos à mente que a distribuição de tudo que Ele criou está em suas mãos e em seu poder, e nós somos seus próprios filhos, os quais acolheu para alimentar e educar em sua fé e custódia; para que esperemos somente d'Ele o sumo de todos os bens e com segurança esperemos que Ele nunca nos deixará faltar as coisas necessárias à nossa salvação; para que a nossa esperança não dependa de outro; para que, em tudo o que desejarmos, dirijamos a Ele os nossos votos, e reconheçamos ser de seu benefício o fruto de cada coisa que recebemos, e o declaremos com ação de graças, para que atraídos por tamanha suavidade de bondade e beneficência, zelemos por amá-lo e honrá-lo de todo o coração."
(João Calvino, Livro 1, Capítulo XIV, parágrafo 22)