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02 julho 2013

"Física Quântica e Teologia: Um Parentesco Inesperado"

Algumas impressões sobre a interessante e esclarecedora obra de John Polkinghorne, intitulada "Quantum Physics and Theology: An Unexpected Kinship".


- Antes de expor algumas idéias principais do texto, precisamos do contexto sobre a trajetória do autor. John Polkinghorne atuou como físico teórico na universidade de Cambridge durante 25 anos, trabalhando no estudo de partículas fundamentais, como os quarks, por exemplo. Depois de sua carreira como físico de partículas, ele seguiu seu chamado ao sacerdócio na igreja anglicana e, depois de algum tempo, voltou a Cambridge como deão da capela do "Trinity Hall".

- Alguns trechos traduzidos do livro:

De maneira bem humorada, John Polkinghorne diz que as pessoas, quando se deparam com a realidade dele ser tanto um físico quanto um sacerdote, ficam surpresas da mesma forma como se alguém dissesse que é um "açougueiro vegetariano".

O autor cita um texto de Michael Polanyi, que escreve sobre filosofia da ciência: 
"Compreensão não é nem um ato arbitrário, nem uma experiência passiva, mas um ato responsável reivindicando validade universal. Tal conhecimento é, de fato, objetivo no sentido de estabelecer contato com a realidade oculta... Conhecimento pessoal é um compromisso intelectual, e como tal, inerentemente arriscado. Somente afirmações que podem ser falsas podem transmitir conhecimento objetivo deste tipo... Ao longo do livro eu tentei apresentar esta situação aparente. Eu mostrei que em cada ato de conhecimento há uma contribuição passional de uma pessoa conhecendo o que é conhecido, e este coeficiente não significa imperfeição, mas um componente vital para o seu conhecimento."

"A teologia, assim como a ciência, deve fazer uso da crença motivada proveniente de experiências interpretadas. Obviamente, no caso da teologia, o tipo de experiência, e os tipos de crenças motivadas que surgem a partir de sua interpretação, são muito diferentes daquelas apropriadas a partir das ciências naturais."

"Por meio de contraste, em todas as formas de experiência subjetiva - quer seja satisfação estética, atos de decisão moral, relações amorosas humanas, ou o encontro transpessoal com a sagrada realidade de Deus - eventos são únicos e irreprodutíveis, e sua interpretação válida depende, em última análise, de uma aceitação baseada na confiança, ao invés de uma análise baseada em testes."

- Polkinghorne considera 4 (quatro) características distintas da experiência religiosa que expressam o contraste entre ciência e teologia neste aspecto:

1) O fato do entendimento teológico ser um processo mais complexo do que o entendimento científico. O conhecimento científico é cumulativo ao longo das eras da história, ao passo de um físico hoje compreender muito mais sobre o universo do que Sir Isaac Newton jamais pensou em compreender, simplesmente por estar vivendo cerca de três séculos depois deste grande cientista. No conhecimento religioso, no entanto, cada geração não apenas tem que adquirir discernimento teológico próprio, mas também precisa estar em diálogo ativo e contínuo com as gerações precedentes. Assim como não há presunção de superioridade da música do século 21 em comparação com os séculos passados, também não há necessariamente uma comprovada superioridade teológica no dias de hoje, em comparação ao conhecimento teológico dos séculos passados.

2) A iniciativa para o ajuste ou a forma em que ocorre o encontro com a realidade recai sobre os cientistas, no caso de experimentos realizados no mundo físico, ou no caso de ciências históricas como a cosmologia e a biologia evolutiva, por observação. Contudo, no caso da realidade divina, Deus pode tomar a iniciativa ao transmitir a verdade, através de revelação. Um dos papéis da Sagradas Escrituras é mostrar o registro destes eventos teológicos fundacionais.

3) As motivações para a crença científica surgem principalmente de ocorrências que são, a princípio, publicamente acessíveis e reprodutíveis, de tal forma que a ciência pode ser bem sucedida em alcançar uma aceitação virtualmente universal ou unânime para suas conclusões publicamente divulgadas. O cenário religioso, pelo contrário, é tipicamente fragmentado, e as divergências não se restringem somente ao plano da definição de convicções religiosas, mas se estendem também a compreensões metafísicas mais gerais.

4) As consequências provenientes da adoção da crença. John Polkinghorne testemunha que está inteiramente convencido da existência de quarks e gluons, mas que este conhecimento, proveniente de sua atuação como físico de partículas, não afeta a sua vida de maneira significativa, além de ir de encontro à busca da satisfação intelectual alcançada através da atuação no campo científico. O autor continua, dizendo que sua fé em Jesus Cristo como Filho de Deus encarnado tem consequências para todos os aspectos da vida dele, não só em relação à conduta, mas também em relação ao entendimento. Ele diz que a crença religiosa é muito mais exigente do que a crença científica, pois o papel de fatores existenciais influencia sobremaneira a forma pela qual as pessoas se aproximam da possibilidade da crença religiosa.

O autor continua, escrevendo: 
"Assim, vejo que há um relacionamento, como o de primas, entre os caminhos nos quais a teologia e a ciência perseguem a verdade dentro dos domínios próprios da sua experiência interpretada."
"O propósito deste livro é buscar as analogias entre a investigação científica do mundo físico e a exploração teológica da natureza de Deus."