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13 novembro 2013

Institutas 17

"Foi sobremaneira necessário que aquele que haveria de ser nosso Mediador fosse verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Se se indagar acerca da necessidade, certamente não foi simples nem absoluta, como se costuma dizer, mas emanou de um decreto celeste, do qual dependia nossa salvação. Tudo o mais que nos era útil e bom, estabeleceu o Pai clementíssimo. Como nossas iniquidades interpuseram-se entre nós e Ele, tal qual nuvens que nos afastassem irrevogavelmente do reino dos céus, ninguém, a não ser aquele que a Ele alcança, poderia ser um intérprete para a restituição da paz. Ora quem o alcançaria? Acaso algum desde os filhos de Abraão? Como, se todos eles, inclusive seu pai, tinham pavor da visão de Deus? Algum dos anjos? Mas também eles tinham necessidade de uma Cabeça, por cuja união aderissem sólida e indissoluvelmente a seu Deus. O que então? Era certamente um caso a ser lamentado a não ser que a própria majestade de Deus descesse até nós, uma vez que o ascender não nos cabia. Assim, foi preciso que o Filho de Deus fosse feito para nós um Emanuel, um 'Deus conosco', de tal maneira que, por uma conjunção mútua, sua divindade e natureza divina fossem reunidas entre si."
(João Calvino, Livro 2, Capítulo XII, parágrafo 1)

"O que se torna ainda mais claro diante da consideração de quanto não foi vulgar que exercesse o papel de Mediador; com efeito, restitui-nos de tal modo na graça de Deus que nos transformou, de filhos do homem, em filhos dele, de herdeiros de geena, em herdeiros do reino celeste. Quem teria tal poder, a não ser que o Filho de Deus fosse feito também filho do homem e recebesse o que é nosso para transferir para nós o que é seu? E o que erra seu por natureza, fazer nosso pela graça? Portanto, baseados nesse penhor, confiamos que somos filhos de Deus, uma vez que o Filho de Deus se apropriou de um corpo natural como o nosso corpo, de carne da nossa, de ossos dos ossos, para que fosse o mesmo que nós."
"... foi sobremaneira útil para essa causa que fosse tanto verdadeiro Deus como homem aquele que haveria de ser nosso futuro redentor. Cabia a Ele absorver a morte: quem o poderia senão a vida? Cabia a Ele vencer o pecado: quem o poderia senão a própria justiça? Cabia a Ele abater os poderes do mundo e dos ares: quem o poderia senão o que é superior em força tanto ao mundo como ao ar? Na posse de quem está a vida, ou a justiça, ou o império do céu e das potestades, senão somente em poder de Deus? Portanto, o clementíssimo Deus fez a si na pessoa do unigênito, o nosso Redentor, quando nos quis redimidos."
(João Calvino, Livro 2, Capítulo XII, parágrafo 2)

"Por fim, dado que nem Deus sozinho possa experimentar a morte, nem o homem possa sozinho superá-la, associou a natureza humana com a divina, para submeter a debilidade daquela à morte, para a expiação dos pecados, mantendo com a força desta a luta com a morte, para adquirir para nós a vitória."
(João Calvino, Livro 2, Capítulo XII, parágrafo 3)

"Por seu exemplo, exorta-nos à submissão, porquanto, sendo Deus, poderia propor imediatamente para o mundo sua claríssima glória, e no entanto abandonou o que era de seu direito e espontaneamente esvaziou-se a si, porque, vestindo a imagem de servo e satisfeito com aquela humildade, admitiu esconder com o véu da carne sua divindade [Filipenses 2:5-7]."
(João Calvino, Livro 2, Capítulo XIII, parágrafo 2)