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31 agosto 2014

Amor reducionista

Minha varoa (Gênesis 2:23),
Se eu tivesse uma cosmovisão materialista, particularmente reducionista, que essencialmente crê que tudo o que existe no universo pode ser explicado a partir dos átomos e das partículas subatômicas, eu te diria:
- Eu amo cada molécula sua...
- Eu amo cada átomo que constitui cada molécula ou cada íon seu...
- Eu amo cada partícula subatômica que constitui cada átomo seu...
- Eu amo cada molécula volátil que exala o seu cheiro...
- Eu amo cada molécula de açúcar que lhe confere doçura...
- Eu amo, até mesmo, aquelas moléculas que se revelam em alguns (só alguns mesmo, muito poucos!) fios de cabelo branco...
Se cada um de nós, segundo a cosmovisão reducionista, fosse realmente apenas um complexo conjunto de moléculas e substâncias químicas, eu te diria:
- O meu vinagre borbulha no seu bicarbonato...
- O meu cloreto precipita nos seus íons prata...
- O meu sódio metálico ferve na sua água...
- O meu dieno conjugado fecha o ciclo com o seu alceno...
- O meu nucleófilo se liga ao seu eletrófilo...
- O meu reagente de Grignard se liga à sua carbonila...
Contudo, varoa, eu te amo mais ainda porque nós não cremos no materialismo, ou no reducionismo, mas cremos no Deus vivo e eterno, criador e sustentador deste universo. Cremos no Deus bíblico, que enviou o Seu Filho bendito para nos salvar e redimir nossos pecados. Cremos no Espírito Santo, que comunica em nós o próprio Senhor Jesus Cristo.
É por isso que eu te amo cada vez mais, varoa.
E, pela graça e misericórdia do nosso Senhor, vou te amar por toda a eternidade, na Glória.
E lá vou poder te amar sem meus defeitos e pecados. Vou poder te amar perfeitamente, como Jesus Cristo ama a Sua Igreja, como o Cordeiro ama a sua Noiva (Apocalipse 19:7).
Louvado seja o nosso Senhor por nos constituir, junto com nossos filhos, uma família!
Valéria, em Cristo, eu te amo ainda mais...
Ao Senhor, toda a Glória, desde agora e para todo o sempre! Amém.


13 agosto 2014

Sim e amém

Sim, creio no Deus trino (Pai, Filho e Espírito Santo).
Sim, creio que este Deus é o criador do universo.
Sim, creio que este Deus é o sustentador do universo.
Sim, creio que este Deus é transcendente e, ao mesmo tempo, se relaciona com sua criação.
Sim, creio que a Bíblia é a Palavra vivificadora deste Deus que se relaciona e se revela.
Sim, creio que este Deus encarnou na forma humana, o Emanuel (“Deus Conosco”, Mt 1:23).
Sim, creio que este Deus-homem se ofereceu como Redentor para o sacrifício substitutivo.
Sim, creio que este Deus-homem, sem pecado algum, foi crucificado, morto e sepultado.
Sim, creio que este Deus-homem ressuscitou depois do terceiro dia.
Sim, creio que a obra redentora deste Deus-homem é a salvação pela graça, mediante a fé.
Sim, creio que este Salvador é o meu Salvador, e sou grato a Ele por isso.
Sim, creio que este meu Salvador também tem autoridade e senhorio sobre a minha vida.
Sim, creio que a obra redentora deste Senhor foi necessária e suficiente para me perdoar.
Sim, creio que o sacrifício substitutivo deste Deus-homem me justificou perante Deus.
Sim, creio que este Deus me aperfeiçoa em minhas fraquezas, pela obra do Espírito Santo.
Sim, creio que esta justificação e aperfeiçoamento são suficientes para me conduzir aos Céus.
Sim, creio nos Céus, como a morada definitiva e eterna dos peregrinos desta vida, em Cristo.
Sim, sou um cientista.
Sim, sou um homem.
Sim, sou um crente.
Sim, sou um evangélico.
Sim, sou um protestante reformado.
Sim, sou um cristão.
Sim e amém.

“Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não é sim e não. Porque o Filho de Deus, Cristo Jesus, que foi, por nosso intermédio, anunciado entre vós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas sempre nele houve o sim. Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio” (2 Coríntios 1:18-20, ênfases acrescentadas).
“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16a).
SDG


Evangelho visual 37


Evangelho visual 36


Evangelho visual 35


Evangelho visual 34


08 agosto 2014

Aprendizado piedoso 90

Transcrição de um trecho do sermão "Os Puritanos e o amor de Deus no Céu", ministrado pelo Dr. Joel Beeke, no Simpósio OsPuritanos 2014, em Maragogi-Al:

Texto base para a pregação:

(começando em 02:15)
[Oração:] Senhor Deus, Tu prometestes preparar os Céus para o teu povo. Prepara-nos para os Céus. Faça-nos santos nesta vida, para que possamos chegar ao clímax da santidade dos céus e possamos experimentar a alegria de te cultuar para todo o sempre, como a noiva perfeita, do noivo perfeito. E, à medida que elevamos nossas almas aos Céus nesta manha, dá-nos liberdade para verdadeiramente acreditarmos que esta é a utopia futura do crente. E que desejemos mais aquele grande dia, quando o nosso próprio Salvador virá como juiz e nos abraçará com braços de amor, e nos dará tudo o que precisaremos, para todo o sempre, para podermos focar somente nEle. Oh! Deus, apressa este dia, quando este corpo mortal se revestirá de imortalidade, e quando esta corruptibilidade se revestirá de incorruptibilidade, e quando estaremos para sempre com o Senhor. Em nome de Jesus. Amém.”
(começando em 27:24)
“[Nos Céus], este relacionamento com Jesus Cristo não será de perfeição somente nEle, mas também em nós. Uma das grandes belezas dos Céus é que nós estaremos completamente conformados com a imagem de Cristo. Nós O veremos como Ele é, mas ainda mais, nós seremos como Ele, de tal forma que Ele verá a sua própria imagem refletida em nós. Não haverá mais pecado. Nós teremos almas perfeitas. Você consegue imaginar isto, que não haverá mais pecado? O puritano John Owen coloca da seguinte forma: ‘não há sequer um verdadeiro crente para quem o pecado não seja a sua grande tristeza’. Você não está cansado de pecar? Do seu egoísmo? Da sua impureza? Da sua obstinação em pecar? Do seu orgulho e inveja? Da sua dureza de coração? Todo este emaranhado complexo de pecados, simplesmente desaparecerá [nos Céus]. O apóstolo Paulo disse: ‘o mal está presente em mim’. Mas, não mais, Paulo. Isto somente estará presente até os Céus chegarem. Quando os Céus chegarem, eu nunca mais vou pecar. Eu nunca mais entristecerei o Espírito Santo novamente. Eu nunca mais quebrarei um único mandamento de Deus novamente. Eu nunca mais vou falhar com o meu Salvador. Eu nunca mais terei que derramar lágrimas por causa do meu pecado. A perfeição sem pecado não é um sonho tolo. Não é uma utopia imaginária. Os Céus são uma utopia genuína. Não mais pecado. Muitas vezes aqui, como ouvimos na noite passada, nós lutamos com o pecado, e até nos perguntamos como Deus pode nos amar. Nós até nos questionamos se, no final, vamos chegar mesmo nos Céus. Como Deus pode amar alguém tão não amável quanto eu? Mas, nos Céus, nunca mais teremos estes pensamentos, porque teremos almas perfeitas, e daremos a Cristo toda a glória por isso. A noiva perfeita [a Igreja] e o noivo perfeito [Jesus Cristo], em um casamento infinitamente melhor do que tiveram Adão e Eva, antes da queda. Porque Adão e Eva puderam cair, mas nos Céus, nós não poderemos. Todo o bem estará inserido em nós, e todo o mal estará removido de nós, para sempre.”
(começando em 37:52)
“Você pode estar em um casamento maravilhoso, e não conseguir imaginar como você poderia amar mais o seu cônjuge do que você ama agora. Algumas vezes, eu digo para a minha esposa: ‘se eu pudesse sentar no computador e criar uma lista de 100 coisas que eu procuro em uma esposa, e comparasse esta lista com você, eu escolheria você todos os dias. De alguma maneira, eu vejo em você tudo aquilo que eu desejo, e ainda mais. Eu não quero fazer mudanças, pois a amo do jeito que você é’. É exatamente desta maneirar que o seu Salvador pensará a seu respeito, naquele grande dia.”
(começando em 39:58)
“Quantas vezes, nestes últimos dias [no simpósio OsPuritanos 2014], eu falei com algumas pessoas aqui, e elas sorriam e diziam: ‘eu não falo inglês’. Pense  na incrível variedade de pessoas que estarão nos Céus. Santos de todos os períodos, de todas as nações, de todas as cultura e personalidades, e provenientes de todo o tipo de experiências. Tantas histórias para serem contadas. Milhões de pessoas, que são seus irmãos e irmãs, e lá na eternidade você terá tempo de conversar e desenvolver amizade com eles. Amizades perfeitas. Bem, se este é o caso, por que não começar, já e aqui, a desenvolver estas amizades? Ame o povo de Deus aqui. Entenda que cada crente verdadeiro sentado aqui, nesta manhã, pertence a maior de todas as famílias na face da terra.”
(começando em 47:13)
“Lá nos Céus, esta reunião será perfeita. Você amará cada irmão e cada irmã. Que grande volta ao lar! Viva aqui, pensando na sua casa, que está por vir!



Link direto para o áudio aqui.

06 agosto 2014

Aprendizado piedoso 89

 Transcrição de um trecho do sermão "Os puritanos e a luta por santidade interior", ministrado pelo Dr. Joel Beeke, no Simpósio OsPuritanos 2014, em Maragogi-Al:

Texto base para a pregação:

(começando em 03:25)
“Verdadeiros crentes são conhecidos por sua paz com Deus, por sua alegria em Deus, e pelo amor de Deus derramado em seus corações. Há muitos cristãos hoje que se tornaram primeiramente interessados no cristianismo porque olharam para outros crentes e disseram: ‘tem algo neles que eu não tenho’. Mas crentes verdadeiros também são conhecidos por seus desafios, pela sua guerra espiritual e pelas batalhas internas contra o pecado. Então a paz e a alegria dos cristãos geralmente oscilam com esta guerra e estes desafios. E quando nós, crentes, caímos em pecado, nós nos sentimos derrotados (‘defeated’, em inglês). Nós imaginamos como será daqui para frente? Como eu posso ser um cristão e cair em pecado tão facilmente? Eu me sinto derrotado. Isso é uma luta. Na história, houve uma grande guerra entre a Inglaterra e a França. A Inglaterra mandou o duque de Wellington para lutar contra Napoleão e os ingleses ficaram na costa, esperando a frota do duque de Wellington voltar. Finalmente, em uma manhã, eles viram os navios voltando em meio a uma névoa. E havia uma bandeira, que dizia: ‘Wellington derrotado’ (‘Wellington defeated’, em inglês). E um grito de tristeza veio da multidão e um boato correu por toda a Inglaterra, dizendo: ‘fomos derrotados’ (‘We were defeated’, em inglês). É isso que Satanás tenta fazer conosco quando caímos em pecado. Mas eu quero lhes mostrar esta noite que mesmo quando caímos em pecado, não estamos derrotados.”
(começando em 23:28)
“John Bunyan dizia que se o pecado bate à nossa porta, e nós abrimos e vemos o ‘sr. pecado’ ali, e fechamos a porta imediatamente, nós não pecamos. Você não pode passar por este mundo sem ver o pecado. Você peca, diz John Bunyan, quando você deixa o ‘sr. pecado’ entrar e mexer com a sua cabeça. Bunyan disse que o pecado sempre tenta entrar por duas portas. Uma é o portão dos olhos e a outra é o portão dos ouvidos...
...Vejam Romanos 6:11 (‘Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus’). Esta deve ser a nossa atitude como cristãos. O dr. Martyn Lloyd-Jones disse, certa vez, que este versículo (Romanos 6:11) fez mais bem por ele para dizer não ao pecado do que qualquer outro versículo da Bíblia...
...Uma batalha pelo portão dos olhos e uma batalha pelo portão dos ouvidos. Mas graças à Deus, porque o pecado nem sempre triunfa. Deus nos ajuda muitas vezes, de formas extraordinárias. Charles H. Spurgeon dizia: ‘Eu agradeço a Deus de duas formas, por me manter longe do pecado. Eu o agradeço, em primeiro lugar, pois quando a tentação está presente, Ele tira o meu desejo de pecar. Em segundo lugar, quando o meu desejo de pecar está presente, Ele tira de mim a oportunidade’.”
(começando em 30:50)
“Mas, finalmente, Paulo nos fala de um livramento interno. Um livramento glorioso. Depois que ele diz: ‘Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?’ (Romanos 7:24). A resposta está no versículo 25: ‘Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor’. A pergunta do versículo 24 é uma pergunta de perturbação (aflição ou angústia), mas não é uma pergunta de desespero, porque Paulo já sabe a resposta. Ele sabe que é em Jesus Cristo. Ele sabe que é pela fé que se assegura de Jesus Cristo, como revelado nas Escrituras e aplicado pelo Espírito. E é por isso que lemos no próximo capítulo (Romanos 8:37): ‘Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou’. Paulo entende que ele vai perder alguns conflitos, mas não vai perder a guerra, porque Jesus Cristo é o seu capitão, e não vai deixá-lo...
...E logo o pecado estará para trás e não haverá mais conflito algum. Até o meu corpo será restaurado na ressurreição. Não terei mais problema com meus olhos e ouvidos, nem problema com minha mente ou coração. A minha santificação será tão perfeita quanto a minha justificação. E ambas estão em Cristo. E ambas são vitoriosas em Cristo. Em Cristo há tudo o que eu preciso. Graça suficiente. Um futuro glorioso. Levante a sua cabeça, crente que está em meio a lutas e batalhas. Leve os seus pecados a Jesus Cristo, todos os dias. Comece todo dia, como um novo dia. Todo dia, quando sair da cama, peça a Deus para que você possa viver de acordo com a sua nova natureza. Para que você possa viver consistentemente com quem você é, em Cristo Jesus. Sua pessoa verdadeira, porque você é nova criatura. Peça a Deus força para afastar todo intruso. E, não importa o que Satanás disser a você, lembre-se que você está lutando uma batalha que já foi vencida. Você não será derrotado! Lá na Inglaterra, quando o duque de Wellington estava retornando, e eles viram a bandeira dizendo: ‘Wellington derrotado’ (‘Wellington defeated’, em inglês). Os navios estavam chegando mais próximos à costa agora, a névoa se dissipou, e os ingleses puderam ler a frase completa na bandeira: ‘Wellington derrotou o inimigo’ (‘Wellington defeated the enemy’, em inglês). E um grito de alegria percorreu toda a Inglaterra: ‘Nós finalmente temos a vitória!’. A vitória arrancada das garras da derrota! E é isso que você tem aqui agora. Sempre que você tropeçar em pecado, você não corre de Cristo. Não se esconde, como Adão, atrás do arbusto. Você vai a Jesus, e se arrepende, com choro, dizendo: ‘Tenha misericórdia de mim’. E Ele vai te abraçar. Quando o meu filho tinha 6 anos de idade, em voltei do trabalho para casa um dia, e minha esposa me disse algo que ele havia feito, e que não era bom. Então, na mesa do jantar, eu estava pensando em qual seria a sua punição. Eu seria bem firme, pois era uma infração moral. Eu estava um pouco quieto e acho que ele sentiu isso. Mas, de repente, eu senti alguém atrás de mim, e senti braços me abraçando. E senti gotas no meu pescoço. Era o meu filho. Ele estava chorando e dizendo: ‘Papai, eu pequei. Você me perdoa?’. Eu o perdoei, pois sou seu pai. É claro que eu o perdoei. Ele ainda recebeu uma punição mais branda, mas o que eu estava originalmente pensando em fazer para puni-lo, eu joguei pela janela. Onde há arrependimento, há sempre um ‘seja bem vindo’ de Jesus Cristo. Não corra do seu Pai, mas corra para Ele.”




04 agosto 2014

Institutas 26

“... Pois, se é preciso viver, é preciso também que nos sirvamos dos meios necessários para isso. E não podemos evitar aquelas coisas que parecem sujeitas mais ao prazer que à necessidade. Logo, é preciso que tenhamos uma medida, a fim de usar tais coisas com a consciência limpa, seja por necessidade, seja por prazer. A medida, no-la prescreve o Senhor com sua Palavra, quando ensina que a vida presente é uma espécie de peregrinação para os seus, por meio da qual se encaminham ao reino celestial. Se é preciso ao menos passarmos p ela terra, não há dúvida de que, enquanto isso, devemos usar seus bens, a fim de que mais ajudem do que retardem nosso percurso.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo X, parágrafo 1)

“... Ora, se pensarmos na finalidade para a qual Ele criou os alimentos, descobriremos que quis atender não somente a nossa necessidade mas a nosso deleite e satisfação. Da mesma forma as roupas, além da necessidade, atendem ao decoro e à honestidade. Nas ervas, árvores e frutas, além das várias utilidades, há a graciosidade da aparência e o prazer do perfume. Pois, se isso não fosse verdade, o profeta não incluiria, entre os benefícios de Deus, que ‘o vinho alegra o coração do homem’ e que ‘o azeite faz brilhar o rosto’ (Salmos 104:15).”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo X, parágrafo 2)

“... Logo, a questão da justificação deve ser examinada agora mais atentamente, e examinada de tal forma que recordemos que ela é o ponto principal da nossa religião, para que tenhamos aqui maior atenção e cuidado.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 1)

“... Logo, dir-se-á de um homem que é justificado em razão de suas obras quando, em sua vida, encontrarem-se a pureza e a santidade que mereçam o testemunho de justiça diante do tribunal de Deus; ou antes, quando o homem, pela integridade de suas obras, possa responder e satisfazer ao julgamento do Senhor. Ao contrário, será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras, compreende a justiça de Cristo por meio da fé, e, vestido com ela, apresenta-se ante o olhar do Pai não como pecador, mas como justo. Assim, nossa interpretação é que a justificação é simplesmente a aceitação pela qual Deus nos recebe na graça e nos considera justos. E dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 2)

“... Logo, justificar não quer dizer outra coisa senão absolver do castigo o que fora feito réu, como se sua inocência tivesse sido provada. Assim, uma vez que Deus nos justifica pela intercessão de Cristo, absolve-nos não propriamente porque nossa inocência foi provada, mas pela imputação da justiça; de forma que somos reputados justos em Cristo, mas em nós mesmos não o somos.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 3)

“... Paulo diz que Davi descreve a justiça sem obras com estas palavras: ‘Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas’ (Romanos 4:7; Salmos 32:1)... mas inclui toda a justiça na remissão gratuita, declarando que é bem-aventurado o homem cujos pecados são cobertos, ao qual Deus perdoa as iniquidades e ao qual não imputa suas transgressões; por conseguinte, estima e avalia que a felicidade desse homem não está em que seja realmente justo, mas em que seja imputado como tal.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 11)

“... O apóstolo [Paulo] diz que considerou esterco [‘skubalon’, no grego] todas as coisas, a fim de ganhar Cristo e de ser encontrado unido a Ele, não tendo sua própria justiça, que vem da Lei, mas a justiça que vem de Deus, pela fé (Filipenses 3:7-9)... Ele mesmo o mostra quando diz que nosso orgulho fica excluído não pela Lei, mas pela fé (Romanos 3:27). De onde segue que, enquanto permanecer em nós um pouquinho de justiça das obras, permanece algum motivo de orgulho. Mas, se a fé exclui todo orgulho, a justiça das obras não se pode associar, de modo algum, com a justiça da fé. Nesse sentido, Paulo fala tão claramente, no quarto capítulo aos romanos, que não há lugar a dúvidas ou a tergiversações. ‘Se Abraão foi justificado pelas obras, ele tem de que se gloriar’. E acrescenta: ‘mas não diante de Deus’ (Romanos 4:2). Por conseguinte, Abraão não foi justificado pelas obras. Apresenta depois outro argumento pelo seu contrário: quando se paga o salário pelas obras, mas ocorre por dívida, não se faz por graça. A justiça da fé, contudo, é distribuída segundo a graça. Logo, não é pelo mérito das obras. É, pois, um sonho daqueles que imaginam a justiça feita de fé e de obras.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 13)

“Não obstante, a Escritura, quando fala da justiça da fé, nos conduz por um caminho muito diferente: que, tendo desviado o olhar de nossas obras, olhemos somente a misericórdia de Deus e a perfeição de Cristo. Com efeito, ensina ser esta a ordem da justificação: que, a princípio, Deus tem por bem, por mera e gratuita bondade, abraçar o pecador, não levando em conta nele coisa alguma pela qual se sinta movido à misericórdia para com ele, mas apenas sua miséria, já que o vê totalmente desnudo e vazio de boas obras, e de si mesmo tira a causa por que beneficiar o pecador.”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 16)

“... Não deve parecer inusitada a expressão ‘Os fiéis são justos diante de Deus não por suas obras, mas por gratuita aceitação’, já que ela ocorre na Escritura em toda a parte e que até os doutores antigos falam assim às vezes. Assim, pois, Agostinho diz em algum lugar: ‘A justiça dos santos neste mundo consiste mais na remissão dos pecados que na perfeição das virtudes’ [Aug. De civ. Dei XIX 27 MSL 41, 657; CSEL 40 II, 421, 26s].”
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 22)

“... Que significa colocar nossa justiça na obediência de Cristo senão afirmar que só por Ele somos considerados justos, porque pela obediência à justiça de Cristo é aceita por nós, como se fosse nossa? Por isso me pareceu que Ambrósio estabeleceu admiravelmente um paradigma dessa justiça na bênção de Jacó. Como ele não mereceu a primogenitura por si, mas ocultando-se sob o aspecto de seu irmão e vestido com as roupas dele, que exalavam um odor excelente, aproximou-se de seu pai para, sob o disfarce de outra pessoa, receber a bênção em proveito próprio; da mesma forma, é necessário nos escondermos sob a pureza preciosa de Cristo, nosso irmão primogênito, para conseguirmos testemunho de justiça perante os olhos de Deus. As palavras de Ambrósio são: ‘Que Isaac tenha sentido o odor das roupas talvez queira dizer que não somos justificados pelas obras, mas pela fé; uma vez que a fraqueza carnal é impedimento para as obras, mas a caridade da fé, que merece o perdão dos pecados, eclipsa o erro das obras’ [Ambrosius, De Iacob et vita beata II 2,9 CSEL 32 II, 37, 5ss]. E é exatamente assim. Pois, para comparecermos diante da face de Deus para nossa salvação, é preciso sentirmos o bom perfume que Ele exala, e nossos vícios serem cobertos e sepultados por sua perfeição.
(João Calvino, Livro 3, Capítulo XI, parágrafo 23)

02 agosto 2014

"A Bíblia e o surgimento da ciência moderna"

No capítulo 1 (“Deus e a fé são inimigos da razão e da ciência?”) do livro "Gunning for God", de John C. Lennox, este autor faz referência a outro livro denominado ‘The Bible, Protestantism and the Rise of Science', de Peter Harrison, como pode ser observado abaixo:

“Na verdade, como Alfred North Whitehead e outros apontaram, há fortes evidências de que a cosmovisão bíblica esteve intimamente envolvida com o desenvolvimento meteórico da ciência nos séculos 16 e 17... Mais recentemente, O professor de Ciência e Religião de Oxford, Peter Harrison, tem defendido um aprofundamento da tese de Whitehead. Ele mostra que não foi somente o teísmo em geral, mas também os princípios particulares da interpretação bíblica usados pelos Reformadores que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da ciência [Peter Harrison, ‘The Bible, Protestantism and the Rise of Science', Cambridge University Press, 1998].”

Seguem abaixo alguns trechos traduzidos de um artigo escrito por Peter Harrison sobre o mesmo tema, publicado na revista "Science and Christian Belief", e intitulado "The Bible and the Emergence of Modern Science":

“Minha tese, expressa de maneira simples, é que os Reformadores Protestantes, com alguma ajuda dos humanistas da renascença, patrocinaram uma nova abordagem para o texto bíblico, e ao fazê-lo, permitiram uma revolução hermenêutica que trouxe em seu rastro uma nova abordagem para os objetos naturais. Ao rejeitar a alegoria e insistindo, ao invés disso, que a Bíblia, o livro da palavra de Deus, deveria ser lida em seu sentido literal ou histórico, eles inadvertidamente tornaram possível uma nova abordagem para aquele outro ‘livro’, o livro da natureza. Essa nova abordagem foi essencialmente uma abordagem científica.”
“Em sua obra clássica sobre hermenêutica bíblica no início do período moderno, ‘O Eclipse da Narrativa Bíblica’ (1974), Hans Frei observa que ‘a afirmação que o sentido literal ou gramatical é o verdadeiro sentido da Bíblia tornou-se programática para as tradições de interpretação Luteranas e Calvinistas’. À luz do sistema de interpretação medieval que acabamos de delinear, este implicaria, é claro, uma rejeição da alegoria, e isso é precisamente o que nós encontramos quando nos voltamos para os principais reformadores. Lutero anunciou, em seu estilo tipicamente colorido, que alegoria era para ‘mentes fracas’ e ‘homens ociosos’. O sentido literal, ele insistiu, é ‘o maior, melhor, mais forte, em suma toda a substancial natureza e fundamento da Sagrada Escritura’. As Escrituras, na avaliação final de Lutero, foram interpretadas ‘em seu significado mais simples possível’. João Calvino concordou que o exegeta deve procurar o sentido ‘histórico’ ou ‘literal’ do texto, o que ele novamente identificou como o sentido simples das palavras (‘simplici verborum sensu’). Tal como Lutero, ele contrastou esta abordagem com a dos alegorisadores: ‘A Escritura, dizem eles, é fértil e, portanto, tem múltiplos significados... Mas eu nego que esta fertilidade consiste nos vários significados que alguém pode fixar por sua própria vontade. Deixe-nos saber, então, que o verdadeiro significado da Escritura é natural e simples, e deixe-nos adotá-lo e mantê-lo firmemente. Vamos não apenas negligenciar como duvidoso, mas com ousadia vamos deixar de lado, como corrupções mortais, estas pretensas exposições que nos levam para longe do sentido literal. ’ [Calvin, J. The Epistle of Paul the Apostle to the Galatians, Philippians, Ephesians, and Colossians, Parker, T. H. L. (trans.), Grand Rapids; Eerdmans (1964), pp. 84f]”
“Calvino, por exemplo, escreveu que quando Moisés falou em Gênesis do sol e da lua como ‘dois grandes luminares’, ele não estava afirmando alguma verdade filosófica, mas estava adaptando seu discurso ao uso comum.”
“Antes de olhar para estas metáforas  dramaticamente revisadas, vale a pena fazer uma breve consideração, tanto para as razões da insistência Protestante na primazia do sentido literal, quanto nas outras características da Reforma que contribuíram com o colapso da mentalidade do simbolismo na Idade Média. Parte da razão para o desejo dos Protestantes de restringir o significado da Escritura ao sentido literal tem certamente a ver com o princípio ‘Sola Scriptura’ (Somente a Escritura). Tanto Lutero, quanto Calvino, desejavam argumentar que a Escritura era uma fonte suficiente p ara o nosso conhecimento de Deus e da Sua vontade. A alegoria, no entanto, distanciava o leitor das palavras da Escritura para longe dos objetos da natureza, que também deveriam ser fontes eloquentes do conhecimento divino.”
“Outros reformadores Protestantes reforçaram o fim das concepções simbólicas da ordem natural. A iconoclastia protestante, por exemplo, evidencia uma profunda desconfiança para com os objetos que supostamente carregavam um significado como símbolos religiosos. Se os objetos da natureza passaram a ser despojados de suas associações simbólicas, é pouco surpreendente que os artefatos humanos, de modo semelhante, foram considerados religiosamente mudos. Eamon Duffy escreveu que a iconoclastia que acompanhou a Reforma Inglesa resultou em ‘um despojamento de observância familiares e queridas, a destruição de um vasto e ressonante mundo de símbolos.’ [Duffy, E. The Stripping of the Altars: Traditional Religion in England, c.1400-c.1580, New Haven: Yale University Press (1992), p. 591. Cf. Aston, M. England’s Iconoclasts, vol. I, Oxford: Clarendon (1988), p. 16; Green, I. The Christian’s ABC: Catechisms and Catechising in England, c.1530-1748, Oxford: Clarendon (1996), pp. 431-437]”
“No culto protestante, o centro das atenções não era mais o drama da missa, mas a pregação da Palavra. Os bancos das Igrejas Protestantes foram tipicamente reorganizados para ficar de frente para o púlpito, ao invés do altar. Esta mudança de foco dos objetos religiosos para palavras também afetou uma mudança significativa na consciência religiosa.”
“Ideias e práticas Protestantes, em suma, desempenharam um papel fundamental nesta profunda transição em que, como Lawrence Stone descreveu, ‘A Europa mudou-se decisivamente à partir de uma cultura de imagem para uma cultura de palavra’. Como consequência desta nova concentração em palavras, mais claramente exemplificada na mudança literalista, objetos naturais foram libertados de sua função subsidiária na questão da exegese bíblica, e se tornaram suscetíveis aos novos princípios ordenadores. Estes, como você pode agora imaginar, foram fornecidos pelas nascentes ciências naturais.”
“Dois comentários finais estão em ordem, e eles dizem respeito à diferença que tudo isso fez na nossa compreensão deste notável período da história e da natureza da própria modernidade, por si só. Em primeiro lugar, há uma visão comum de que o literalismo bíblico é inimigo da ciência. Embora a recente manifestação histórica do fundamentalismo empresta a este ponto de vista um certo crédito, e embora seja indubitavelmente verdadeiro que algumas passagem da Escritura, quando interpretadas em seu sentido literal, foram usadas para suprimir opiniões que foram subsequentemente endossadas pela comunidade científica, eu tenha sugerido que o tipo de mentalidade literalística, característica dos primeiros Protestantes modernos, deu origem a uma cosmovisão que proporcionou um ambiente propício para o florescimento das ciências naturais. A este respeito, então, eu juntei essa linha de historiadores que têm avançado a proposição, reconhecidamente arriscada, de que a ciência moderna e, de fato, a modernidade em geral, tem um profundo débito com o Protestantismo. Em segundo lugar, e na sequência a partir deste ponto, também é comumente assumido que a ciência é um dos principais motores da secularização. Porque as explicações científicas substituem as religiosas, pensa-se, a ciência traz um desencantamento do mundo. Do meu ponto de vista, ocorre exatamente o inverso. O desencantamento do mundo foi realizado, em grande parte, pelas tendências dessacralizadoras da religião Protestante. A remoção de significados religiosos do mundo natural estabeleceu as condições que tornaram possível o florescimento das ciências.”